sábado, 31 de março de 2012

Pandemia Avulsa, por Alam Arezi


Nome: Alam Arezi
Blog: Cabeça Voodoo
Endereço: Salto do Lontra - PR


Homens...
Interditem as estradas mal criadas e esburacadas
Interditem os hospitais lotados e mal administrados
Interditem as igrejas pelo excesso de contingente
Interditem as férias por falta de dinheiro
Interditem a fraternidade pela falta de solidariedade
Interditem os céus pela falta do azul
Interditem as artes pelo excesso de retoques grotescos
Interditem as músicas que estão se desafinando pela nostalgia
Interditem a esperança que se encontra cansada e tão usada


Homens...
Fechem suas portas para o sem teto que precisa de comida
Fechem seus corpos para o delírio da vida
Fechem seus cofres e se esqueçam da combinação
Fechem seus olhos e se deitem no chão


Homens...
Não olhem para o passado e sintam-se culpados
Não chorem ao terem certeza de que são
Não procurem mais respostas para explicar o que não tem explicação
Não acreditem apenas na sorte
Não duvidem de um juízo final esculpido por suas próprias mãos


Orem...
Sintam-se culpados pelo agora e pelo amanhã
Sintam-se acompanhados pelos deuses que inventaram
Sintam-se tão sozinhos como o corcunda de Notre Dame
Sintam-se invejados pelo próprio sorriso no espelho quebrado


Vejam...
O final vem estampado no mastro da bandeira
O final é autoconfiante e indestrutível
O final é o último suspiro, choro, tosse e aceleração
O final é a primordial aceitação


Antes de tudo,
Homens...
Caiam no vazio pessoal, evitem a implosão
Arrumem suas malas, assistam ao filme predileto e escutem a uma última canção de verão...
Depois disso...
O silêncio eterno será a maior invenção
Feita para nós, dada a nós
A pandemia avulsa de nossa criação.


Não existem maiores problemas, apenas o asfalto
Não existe mais a verdade, apenas metáforas
Não existem mais amores, são sabores dos corpos
Não existe lucidez, todos estão loucos
Não existe pandemia, é só mania de controle
Não existe paraíso, criamos o inferno
Não existe calma, sonhamos acordados
Não existe mais a compaixão, criamos espelhos
Não existe mais a solidariedade, contamos o dinheiro
Não existem mais vocações, viramos escravos
Não existe o existir, coexistimos no vazio
Não existe pátria, arrendaram nossas casas
Não existe lar, o operário usa o teto pra dormir.


Viramos a crença de um sonho utópico
Viramos carrascos de oportunidades
Viramos sujeitos sujos de modernidade
Viramos esqueletos partidos
Viramos o mundo e o perdemos.


Estamos à caça de matérias
Estamos sempre na fila de espera
Estamos sobrepujados por um sistema
Estamos longe do que deveríamos ser
Estamos procurando drogas e heróis.


Ascendemos nossos cigarros
Ascenderemos a nossos transcendentes
Acrescentaremos uma palavra de despedida
Ajuizadamente abriremos as feridas
Apressadamente tomaremos fertilizantes de bebidas
Apresentaremos uma ata em branco no dia em que deus sorrir.


Sós - Nós – Não – Desataremos - Nós.
Juntos –Nós –Não – Saberemos - Ser.


Apenas nosso final será lembrado
O nascer enterrado
E vivo
Sem memória
Existirá.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More