domingo, 15 de abril de 2012

A matemática do assalariado, por Carolina Rieger Massetti


Nome: Carolina Rieger Massetti
Endereço: São Paulo - SP
Blog: Pandora Abriu a Caixa



Li algo parecido com “a regra é não esquentar a cabeça”, e nesse exato momento sentia a cabeça fervilhando.  
Ia pela calçada fazendo as contas de tudo o que devo, diminuído do meu humilde salário, quando constatei que me sobrariam R$ 40,00 até o final do próximo mês.
Ah, claro! As contas eram sobre o salário que virá daqui a quinze dias, porque o desse mês já foi e hoje, justamente hoje, dele já não me resta mais nada.
Vinha atormentada pela matemática do assalariado quando torci o pé na porra de um buraco na calçada, senti a sola do sapato solta. Pensei: Meu único sapato, preciso comprar um novo!  Mas, como?! Foi o que me perguntei.
A frase infame ressoava na minha cabeça, então contive o palavrão, me recompus, ajeitei a sola no sapato e segui crente.
A regra é não esquentar a cabeça!
Lembrei do cano estourado no banheiro e da facada que o pedreiro, metido a encanador, me enfiara quando fez o orçamento. Novamente as contas, o dinheiro, a matemática do assalariado.
Um calor! Sol de trinta graus no verão da cinza cidade de São Paulo. Bem... O próprio Sol contribuía para esquentar ainda mais minha cabeça.
Uma sede! Bem que eu poderia tomar uma gelada, mas já não tinha um centavo. É, tinha aquele que o banco dispusera na minha conta, afinal, posso estar sempre dura, mas as contas eu sempre pago em dia.
Liguei para uma amiga:
- Então, vamos tomar uma cerveja?
- Ah, já estou perto de casa, hoje não posso.
- Tudo bem!
Tentei outra, ao que ela respondeu:
- Já te ligo confirmando.
Esperei meia hora, quarenta, cinqüenta minutos... Levei um bolo, era a constatação final. Claro, porque eu ainda acho que tenho direito de ter amigos, e além do mais, a regra é não esquentar a cabeça.
Sentia-me pobre, rota, sozinha e não podia deixar de desconfiar que a qualquer momento um cão viria mijar nas minhas pernas.
Decidi beber sozinha. Olhei um bar, outro... Todos olharam para mim, afinal, dentro deles só havia homens.
Putz, além de tudo sou mulher, se eu sentar sozinha em uma mesa de um desses botecos eles vão achar que eu sou puta ou sei lá, que eu to facinha.
Foi quando a frase ressoou novamente na minha cabeça: “A regra é não esquentar a cabeça”.
Gritei um foda-se em alto e bom som! Foda-se! Quem concebeu essa frase deve ter feito sob efeito de uma boa champagne, com a conta gorda e segurança social. Foda-se!
Então entrei sozinha no boteco mais sujo que tinha por ali, pedi uma cerveja bem gelada, banquei a sapatão e paguei a conta com o dinheiro do banco.


4 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.

Ficou muito bom! Milhões de brasileiros se identificarão com isso! Uma veracidade incontestável!!! Parabéns!

Carol...sem palavras... rsrs
Adorooooo!!!!

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